Campus Poços de Caldas terá pesquisa com anfíbios financiada por fundação do Reino Unido
A pesquisa intitulada “Ecologia e distribuição espacial da anurofauna do Morro do Ferro (Planalto de Poços de Caldas), com foco para Pithecopus ayeaye (ANURA, HYLIDAE)”, coordenada e desenvolvida por professora e discentes do IFSULDEMINAS – Campus Poços, recentemente, foi escolhida pela The Rufford Foundation, fundação do Reino Unido, para receber o investimento de £ 4833 (libras esterlinas), o que equivale a aproximadamente R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais).
A pesquisa financiada pela The Rufford Foundation conta com a atuação de docentes e alunos do Campus.
A pesquisa é coordenada pela prof.ª Dr.ª Mireile Reis dos Santos, com a colaboração de pesquisadores de outras instiuições. O estudo conta ainda com a atuação direta de cinco estudantes do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas. Quatro são do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas: Daniel Rubens Silvares de Matos, Ederson Godoy, Bárbara Marcondes e José Eduardo Coutinho. O quinto discente envolvido é do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental: Roosevelt Heldt Junior.
A seguir, confira uma entrevista exclusiva com a professora Mireile Reis dos Santos, que nos deu todos os detalhes sobre a primeira fase dessa importante pesquisa sobre a ocorrência de anfíbios no Planalto de Poços de Caldas.
- Que tipos de pesquisas são financiadas pela The Rufford Foundation?
Prof.ª Mireile: A Rufford aprova projetos de conservação em Biodiversidade, principalmente para espécies que estejam na lista internacional de espécies ameaçadas de extinção, como é o caso da Pithecopus ayeaye. A intenção deles é que o projeto tenha um horizonte longo de vida. Podem ser solicitados até 04 aportes financeiros. Nesta primeira etapa, aprovamos um valor de £ 4833 (libras esterlinas), o que equivale a aproximadamente R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais). Este recurso será aplicado na aquisição de equipamentos para o desenvolvimento do projeto, bem como para gastos de campo, uma vez que teremos muitas campanhas de campo nesta etapa.
A Pithecopus ayeaye é a espécie alvo do estudo.
- O projeto tem como objetivo estudar a ocorrência da Pithecopus ayeaye no Morro do Ferro em Poços de Caldas? O que podemos destacar sobre essa espécie?
Prof.ª Mireile: A espécie Pithecopus ayeaye é endêmica do Planalto de Poços de Caldas, especificamente no Morro do Ferro. Seu último registro na região já faz algum tempo e, de lá para cá, a região foi muito modificada por atividades humanas, principalmente plantios de eucalipto e mineração. Dessa forma, precisamos nesta primeira etapa do projeto (2019 – 2020), verificar se ainda existem populações desta espécie vivendo na região. Caso elas ainda existam na região, mapearemos algumas variáveis ambientais que são determinantes para a sua ocorrência local, visando, no médio prazo, fazer um estudo ecológico populacional de Pithecopus ayeaye, para possível reintrodução na região. Embora a Pithecopus ayeaye seja a espécia alvo deste estudo, o projeto gerará uma listagem da fauna total de anuros (anfíbios sem cauda) do Morro do Ferro, com seus aspectos ecológicos de distribuição espacial e interações ecológicas. Inclusive temos também outras espécies endêmicas da região, como por exemplo, a espécie Bokermannohyla vulcaniae.
- Nos fale um pouco mais sobre o Morro do Ferro, onde será desenvolvida a pesquisa.
Prof.ª Mireile: O Morro do Ferro é uma região muito peculiar inserida dentro dos limites do Planalto de Poços de Caldas. É uma região que concentra grandes quantidades de metais terras raras e apresenta elevados índices de radiação natural, além de altitudes que podem chegar a aproximadamente 1500 metros. Do ponto de vista biológico, apresenta feições de Campos de Altitude, que é uma fitofisionomia da Mata Atlântica, muito importante. Os campos de altitude se desenvolvem apenas em regiões de elevada altitude e condições específicas de relevo e clima, como é o caso do Morro do Ferro. Na contramão da sua importância ambiental, é uma região que vem sendo explorada há décadas por plantios de eucalipto e outras culturas, o que vem substituindo a vegetação natural e expondo ao risco de extinção as espécies que vivem na região.
- A Pithecopus ayeaye, que é a espécie alvo da pesquisa, está ameaçada de extinção?
Prof.ª Mireile: A espécie Pithecopus ayeaye pertence à Classe Amphibia, ordem Anura, que são considerados aqueles anfíbios sem cauda. A espécie pertence à familia Hylidae, que apresenta 1001 espécies distribuídas em 52 gêneros. É conhecida como perereca das folhas, devido aos seus hábitos de postura de ovos. Encontra-se atualmente inserida na lista internacional de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional de Conservação da Natureza ou IUCN – International Union for Conservation of Nature. Encontra-se na categoria “criticamente ameaçada”, pois sua extensão de ocorrência é reduzida e acredita-se que suas populações estão em declínio pela perda de qualidade do seu hábitat.
A pesquisa pretende gerar uma listagem da fauna total de anuros (anfíbios sem cauda) do Morro do Ferro.
- Como surgiu a ideia da pesquisa?
Prof.ª Mireile: A ideia inicial de trabalhar com a espécie Pithecopus ayeaye como alvo do estudo partiu do aluno Daniel Rubens Silvares de Matos (Ciências Biológicas), que sempre se demonstrou muito interessado no estudo de anfíbios. Desde o início da faculdade, ele se dedica a treinamentos, cursos e trabalhos voluntários de coleta de anuros junto a herpetólogos reconhecidos no meio acadêmico científico. Por outro lado, como ecóloga eu busco padrões naturais na ocorrência e distribuição dos organismos vivos sobre a Terra e tenho interesse em investigações ecológicas de vários grupos biológicos. Já venho desenvolvendo pesquisas no Planalto de Poços de Caldas sobre ecologia de alguns grupos, como insetos aquáticos e vegetação ripária, por exemplo. No doutorado, trabalhei especificamente no Morro do Ferro, mesma região de ocorrência da Pithecopus ayeaye, porém com ecologia de invertebrados aquáticos e suas respostas ecológicas aos plantios de eucalipto. Dessa forma, a partir dos nossos interesses comuns, decidimos eu e o discente Daniel Rubens Silvares de Matos estabelecermos esta parceria.
Então, sou a coordenadora do projeto, mas temos alguns pesquisadores associados, principalmente um herpetólogo, Dr. Iberê Farina Machado, que é diretor da ONG Instituto Boitatá, que atua no Grupo de Especialistas em Anfíbios do Brasil junto à IUCN e faz parte do Laboratório de Herpetologia e Comportamento Animal na UFG, como pesquisador visitante. Iberê nos dará todo o suporte na identificação taxonômica das espécies. Também contamos com a parceria dos professores Dr. Paulo Pamplin e Dr. Carmino Hayashi, da UNIFAL, no suporte de equipamentos e análise de resultados. Ainda temos 05 discentes do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas, diretamente envolvidos nos trabalhos de campo. Quatro são do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Daniel Rubens Silvares de Matos, Ederson Godoy, Bárbara Marcondes e José Eduardo Coutinho, e um discente do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, Roosevelt Heldt Junior.
Além da etapa de elaboração e submissão do projeto, outro critério exigido pela Rufford Foundation para aprovação do grant é o recebimento de uma carta de recomendação sobre o coordenador (quem está submetendo a proposta). Assim, alguns pesquisadores parceiros e de áreas afins à minha foram convidados por mim a enviarem esta “cover letter” sobre a minha atuação profissional. Neste caso, os parceiros foram a professora Dr.ª Livia Maria Fusari, do departamento de Limnologia da UFSCar, Dr. Fabio de Oliveira Roque, do departamento de Ecologia da UFMS, Mercedes Marchese, do Instituto Nacional de Limnologia – INALI, Santa Fé, Argentina e Mario Cesar Sedrez, do Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC, aos quais sou muito grata pela confiança e apoio.
Como os resultados parciais do projeto comporão o Trabalho de Conclusão de Curso do discente Daniel Rubens Silvares, a professora do Campus Poços de Caldas, Isabel Ribeiro do Vale Teixeira também compõe a equipe e auxiliará nas análises de interações ecológicas eventualmente registradas. Ela também é co-orientadora do referido aluno.
- Quando vocês pretendem iniciar as atividades do projeto, por meio do trabalho de campo?
Prof.ª Mireile: No dia 15/09/19, fizemos a primeira coleta, também chamada coleta piloto, para ajuste da equipe e alinhamento de ações em campo. No entanto, já estamos na fase de aquisição de equipamentos para continuarmos os trabalhos de campo, que tem previsão para 24 campanhas ao longo desta primeira etapa (2019 a 2020).
Confira as fotos dos primeiros trabalhos de campo da pesquisa!
IFSULDEMINAS - Campus Poços de Caldas
21/10/2019
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