Projeto do IFSULDEMINAS promove experiência transformadora para mulheres em risco de violência doméstica
Trabalhar a autoestima e criar uma rede de apoio entre mulheres em risco de violência doméstica. Estes foram alguns dos objetivos do projeto “Tecendo Relatos, Fortalecendo Laços” desenvolvido pelo IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Kennedy, localizado na zona sul de Poços de Caldas. Realizado de agosto a dezembro de 2023, o projeto atendeu 12 mulheres com mais de 50 anos, por meio de encontros semanais realizados no CRAS e no Instituto Federal. O projeto foi aprovado e apoiado pelo Edital 30/2023, do Programa de Extensão IF Mulher, do IFSULDEMINAS.
O projeto buscou promover os serviços de convivência e fortalecimento de vínculo social (SCFV) e comunitário entre as mulheres, por meio de estratégias de valorização da autoestima, do sentimento de pertencimento social e comunitário local. Com o intuito de diminuir os casos de violência doméstica, o projeto também oportunizou às participantes o acesso a conhecimentos de direitos e políticas públicas de proteção às mulheres.
Os encontros envolveram atividades diversas, como rodas de conversa, dinâmicas de grupo, produção de textos e desenhos sobre as realidades e dia a dia de cada uma. Os desenhos foram a uma alternativa encontrada pela coordenação do projeto, tendo em vista que algumas participantes eram analfabetas. Entre os assuntos abordados nos debates, estiveram os tipos de violências que mulheres podem ser expostas no cotidiano de um relacionamento abusivo e a legislação que protege e ampara as mulheres vítimas de violências domésticas, como a Lei Maria da Penha. As participantes também elaboraram cartas e uma capsula do tempo, onde projetaram seus sonhos, desejos e metas de vida. Um painel, que reuniu as cartas com sugestões de melhorias para os bairros onde as participantes moram, foi entregue na Câmara Municipal de Poços de Caldas.
Também foram realizadas sessões dos filmes “Vidas de Maria”, “Acorda, Raimundo”, e “Barbie”, seguidas de debates sobre os assuntos representados nas produções, que envolvem as questões do universo feminino, como a busca pela autoestima, carreira profissional e o exercício da cidadania, além da necessidade do combate ao machismo e às violências contra as mulheres. Participaram ainda de momentos com artes manuais e confraternizações. Durante o projeto, as participantes tiveram a oportunidade de conhecer, juntamente com seus familiares, os projetos e laboratórios do IFSULDEMINAS durante o evento “IF Portas Abertas”. Algumas estiveram no IF pela primeira vez.
Experiência transformadora
A equipe do projeto, responsável pela condução das atividades, foi composta pelo coordenador, o assistente social do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas, Fábio Geraldo de Ávila; pela bolsista colaboradora externa e também assistente social, Simara de Cassia Oliveira Ferreira; e pelo estudante bolsista, Alex Delbelo. Para todos, a experiência de desenvolver o projeto com as mulheres foi transformadora.
“Durante a realização das reuniões, foram verificadas entre as participantes a melhora na autoestima e a construção de saberes sobre direitos, comunidade e cidadania. Foram desconstruídos preconceitos, misoginia e desvalorização de potencialidades de cada participante. Foram percebidos o surgimento de autoconfiança e a busca por novos objetivos. Tivemos alunas voltando ao mercado de trabalho, buscando cursos de alfabetização e profissionalizantes, assim como aceitação de terapias e auxílio profissional no intuito de melhorar a saúde mental. No âmbito de território, apresentaram reivindicações de melhorias para o bairro junto à coordenação do CRAS. O projeto foi muito prazeroso de ser executado. As participantes mostraram a força e a garra da mulher brasileira. Aprendemos muito com elas", apontou o coordenador do projeto, o assistente social do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas, Fábio Geraldo de Ávila.
"Trabalhar neste projeto, para mim, foi agregador tanto de maneira pessoal quanto profissional. Acredito que ao exercer um papel para pessoas tão incríveis e com tantas histórias, tantos sentimentos foram trabalhados ali, para que sejamos pessoas melhores, profissionais melhores, mais humanos, mais empáticos, e tão mais pacientes. Ver mulheres tão poderosas, mal sabendo do seus poderes por uma sociedade que tanto as invalidam, e ali, conversando com as outras fizeram uma história bonita, amizades bonitas, cumprindo o papel que queríamos: um grupo de convivência e de união. Ao caminharmos com as reuniões, elas mudaram suas autopercepções, o que pra mim significou muito. E isso simplesmente por ouvi-las. Foi uma honra, é isso que posso dizer, foi uma honra, um presente, um aprendizado que mal sei descrever", comentou o estudante bolsista, Alex Delbelo.
"Fizemos uma confraternização de encerramento das atividades no CRAS. Seria um passeio ao parque da zona Sul, contudo, com o mau tempo, transferimos para o CRAS. Tiveram comes e bebes e um bate papo sobre o caso Ana Hickmann e a semelhança com as histórias por muitas delas relatadas durante o projeto, como por exemplo ter o indeferimento pelo judiciário da separação via Lei Maria da Penha. A discussão ocorreu no sentido de que até uma juíza pode ser misógina. E assim foi durante todo o projeto, a vida cotidiana foi sendo relatada e tecida nos relatos e na força da união", mencionou a bolsista colaboradora externa, a assistente social Simara de Cassia Oliveira Ferreira.
Para as mulheres do CRAS Kennedy atendidas pelo projeto, ficou o sentimento de gratidão pelos aprendizados e momentos vivenciados. “Para mim, foi muito interessante. Aprendi muita coisa. Fiz bastante amizade. Foi um programa bom. Eu aprendi sobre a Lei Maria da Penha, que a gente tem proteção sobre a agressão. Também aprendi sobre as doenças, a temática da família. Também falamos sobre a proteção que a gente precisa para o nosso bairro. Através do projeto, também conheci o IF. Nunca tinha entrado lá, nem imagina como era. Gostei muito. Aprendi sobre o café, a parte de eletricidade, as abelhas sem ferrão. Se pudesse voltar, eu toparia participar novamente do projeto. Esse projeto tinha que continuar, porque têm muitas mulheres que tem medo de falar a verdade e desconhecem os seus direitos”, destacou a participante Cláudia Valéria Balbino.
Confira algumas fotos do projeto!
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