A IMPORTÂNCIA DO DISTANCIAMENTO SOCIAL
Distanciamento social é a diminuição de interação entre as pessoas com a finalidade de diminuir a velocidade de transmissão de um vírus. É uma estratégia importante quando há indivíduos já infectados, mas ainda assintomáticos, que não se sabem portadores da doença e não estão em isolamento. Tal medida deve ser aplicada especialmente em locais onde existe transmissão comunitária, como é o caso do Brasil, quando a ligação entre os casos já não pode ser rastreada e o isolamento das pessoas expostas é insuficiente para frear a transmissão.
Recomendado amplamente pela Organização Mundial da Saúde, o distanciamento destaca-se, neste momento, como a única alternativa de combate social à COVID-19. Isso porque ainda não existem vacinas ou remédios com eficácia comprovada cientificamente que combatam ou reduzam substancialmente o ritmo de contágio da doença. A prática tem sido adotada, com sucesso, em diversos países ao redor do planeta.
Para entender a importância do distanciamento social, é necessário, primeiro, entender o conceito de R0: trata-se do número básico de transmissão da doença, ou seja, quantas pessoas um cidadão infectado contaminará. Por exemplo, no caso da gripe aviária (H1N1), o R0 está entre 1,4 e 1,6, o que significa que uma pessoa com H1N1 irá contaminar, pelo menos, outras 1,4 pessoas, que vão contaminar outras 1,4 pessoas, e assim por diante. No caso da COVID-19, esse valor é estimado entre 2,5 a 3,0 pessoas. Isso pode significar, sem nenhuma medida de restrição, em 60.000 casos em dois meses ou mais de 14 milhões de casos em três meses. Percebe-se, portanto, que a velocidade de disseminação do vírus é rápida.
O distanciamento social tem como base, nesse sentido, fazer com que menos pessoas estejam em contato, reduzindo o valor de R0 e, em consequência, diminuindo a velocidade de contágio do vírus e fazendo com que menos pessoas estejam contaminadas, o que é essencial para o controle da doença em um cenário em que não existem vacinas ou remédios com eficácia comprovada para o tratamento, conforme já mencionado. A figura 01 ilustra como o distanciamento é importante.
Figura 01: Importância das medidas de distanciamento social
Fonte: GARCIA, 2020.
No primeiro caso, as medidas de distanciamento social foram adotadas no início do contágio. Isso significou um menor número de infectados pelo primeiro paciente, assim como pelos demais, reduzindo significativamente o número de casos. Já no segundo caso, as medidas de distanciamento foram tomadas posteriormente, o que resultou em um número maior de contaminados. Numa terceira hipótese, sem que houvesse qualquer medida de distanciamento, todas as pessoas seriam contaminadas. Neste caso ilustrativo, tivemos 19 contaminados no primeiro cenário, 25 no segundo e 33 casos no cenário sem distanciamento social. Parece pouco, mas em nível municipal, estadual ou nacional, essas medidas podem representar milhões de casos.
Por que achatar a curva de contágio da pandemia?
O principal objetivo do distanciamento social não é fazer com que nenhuma pessoa seja contaminada. No cenário atual, em que a doença já está espalhada pelo país e há transmissão comunitária em diversos locais, o principal objetivo da medida é fazer com que a curva de contágio seja achatada e, consequentemente, o número de pessoas infectadas simultaneamente seja menor do que a capacidade de acolhimento do sistema de saúde, conforme ilustra a figura 02.
Figura 02: Importância do achatamento da curva de contágio
Fonte: GUROVITZ, 2020.
Analisando o primeiro cenário (sombreado de vermelho), nota-se que todas as pessoas infectadas após a curva ultrapassar a capacidade do sistema de saúde (linha horizontal tracejada) não puderam ser atendidas em hospitais. Isso pode significar o não acesso a equipamentos que podem salvar essas vidas, como os respiradores e leitos de UTI. Com o acesso a esses equipamentos, a pessoa ganharia mais tempo de vida e seu corpo, mais tempo para tentar combater a doença. No segundo cenário (totalmente azul), o sistema de saúde teve capacidade de atender a quase todos os infectados, fazendo com que a maioria das pessoas tivessem acesso aos equipamentos necessários. Observa-se, portanto, que o achatamento da curva visa dar acesso a melhores condições para os cidadãos, o que pode significar milhões de vidas salvas.
Quais as nomenclaturas das medidas de distanciamento social?
O distanciamento social pode ser classificado como ampliado (quando não se limita a grupos específicos) ou seletivo (quando apenas os grupos de maior risco ficam isolados – idosos, imunodeprimidos, pessoas com doenças crônicas descompensadas). São exemplos de distanciamento social ampliado: o fechamento de escolas e mercados públicos, o cancelamento de eventos e de trabalho em escritórios e o estímulo ao teletrabalho, a fim de evitar aglomerações de pessoas. Serviços essenciais devem ser mantidos. Atividades como sair para passear com o cachorro, andar de bicicleta, caminhar na rua, não são proibidas, desde que não haja aproximação menor de 2 metros entre as pessoas. Contudo, deve-se respeitar as orientações das autoridades locais, que podem ser mais ou menos restritivas.
No distanciamento social seletivo não há restrição para a população geral com menos de 60 anos, desde que estejam assintomáticos, mas os grupos de maior risco devem seguir as orientações de permanecer em domicílio. Embora seja uma medida menos danosa para as atividades econômicas e menos traumática para a população, é temerosa a sua aplicação sem as condicionantes mínimas de funcionamento do sistema de saúde (leitos, ventiladores mecânicos, EPIs), pois os grupos de risco continuam tendo contato com pessoas infectadas, tornando mais difícil o controle da transmissão do vírus.
Isolamento é uma medida que visa separar as pessoas doentes (sintomáticos respiratórios, casos suspeitos ou confirmados de infecção por coronavírus) das não doentes, para evitar a propagação do vírus. O isolamento pode ocorrer em domicílio ou em ambiente hospitalar, conforme o estado clínico da pessoa. Essa ação pode ser prescrita por médico ou agente de vigilância epidemiológica e tem prazo máximo de 14 dias.
Quarentena é a restrição de atividades ou separação de pessoas que provavelmente foram expostas a uma doença contagiosa, mas que não estão doentes (porque não foram infectadas ou porque estão no período de incubação). A quarentena pode ser aplicada em nível individual (para uma pessoa que volta de viagem internacional ou para contatos domiciliares de caso suspeito ou confirmado de coronavírus) ou em nível coletivo (para as pessoas de um navio, um bairro ou uma cidade) e geralmente envolve restrição ao domicílio ou outro local designado. Pode ser voluntária ou mandatória.
Quando as medidas de distanciamento social, isolamento e quarentena individual forem insuficientes, pode ser necessário o bloqueio total, também chamado de contenção comunitária, quarentena comunitária ou lockdown, em inglês. Esta medida é uma intervenção aplicada a uma comunidade, uma cidade ou uma região, com o objetivo de restringir a interação entre as pessoas, com exceção de saídas para atividades básicas como comprar mantimentos ou remédios. Em sua vigência, ninguém tem permissão para entrar ou sair do perímetro isolado.
É fundamental ressaltar que essas medidas devem ser implantadas em diferentes momentos e em diferentes locais, de acordo com o nível de risco verificado localmente. O descumprimento das medidas previstas de isolamento e quarentena pode acarretar a responsabilização nos termos previstos em lei e cabe aos agentes de vigilância epidemiológica informarem à autoridade policial e ao Ministério Público sobre o descumprimento da medida.
Atualmente, a medida utilizada pela maioria das regiões do Brasil é o distanciamento social ampliado, cujas regulamentações para conter o risco da COVID-19 são as seguintes:
● envolvimento de toda sociedade em medidas de higiene para redução de transmissibilidade (lavagem das mãos, uso de máscaras, limpeza de superfícies);
● suspensão de aulas em escolas e universidades;
● distanciamento social para pessoas acima de 60 anos;
● distanciamento social para pessoas abaixo de 60 anos com doenças crônicas;
● distanciamento social no ambiente de trabalho – reuniões virtuais, trabalho remoto, extensão do horário para diminuir densidade de equipe no espaço físico, etc;
● isolamento domiciliar de sintomáticos e contatos domiciliares (exceto profissionais de serviços essenciais assintomáticos);
● proibição de qualquer evento de aglomeração (shows, cultos, futebol, cinema, teatro, casa noturna, etc);
● diminuição da capacidade instalada de bares, restaurantes e afins.
Respeitar e cumprir as medidas de contenção da transmissão da COVID-19 é muito importante. Faça sua parte!
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Saúde. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46679-distanciamento-social-depende-de-capacidade-de-resposta-a-pandemia. Acesso em 28 de Maio de 2020.
GARCIA. Rafael. Isolar idosos não é suficiente para combater coronavírus. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/coronavirus/isolar-idosos-nao-suficiente-para-combater-coronavirus-dizem-cientistas-24328901.html. Acesso em 28 de maio de 2020.
GUROVITZ. Helio. Como achatar a curva (parte 1). Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/2020/03/16/como-achatar-a-curva-parte-1.ghtml. Acesso em 28 de maio de 2020.
UFRGS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. TelessaúdeRS. Disponível em:
ttps://www.ufrgs.br/telessauders/posts_coronavirus/qual-a-diferenca-de-distanciamento-social-isolamento-e-quarentena/. Acesso em 28 de Maio de 2020.
Autoria do texto: Comitê Informativo COVID-19 - Campus Poços de Caldas.
Publicado em 02/06/2020.
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